Meu sangue, por Anderson Teixeira

Remexo nas minhas lembranças e encontro guardada entre as mais queridas recordações, um sábado do ano de 2004 que fora daquela realidade tinha tudo para ser mais um dia qualquer, mas que graças aquela experimentação tornou-se a grande passagem da minha vida . As memórias são tão vivas, táteis e carregadas de emoções que sinto os calafrios, a adrenalina, a paixão correr meu corpo como se estivesse acontecendo agora.  Coxias. O calor da amizade. Um palco. Plateia. Luzes. O coração “a mil por hora”. Um adolescente finalmente mergulhando naquilo que chamavam de “A magia do Teatro”.

            Antes do Teatro e todos os seus flertes artísticos, eu era outro. Lembro-me de um garoto por volta dos 12 anos carregado de medos, aflições, totalmente desconectado do seu meio, da família, incompreendido, ainda no desabrochar da existência e já querendo desistir dela ou disposto a entrar em qualquer coisa que desse razão a vida, como se esse deslocamento e confusão existencial me arrastasse para qualquer solução, independente dos danos, eu só queria calar o turbilhão que nascia dentro de mim. Eu não tinha a quem recorrer naquele momento, não sentia segurança em nada ou em qualquer pessoa.

Tudo isso começou a mudar quando comecei a frequentar as aulas de canto, no final de 2003. Através da música, da minha voz, eu finalmente conseguia me expressar e pôr para fora um pouco daquelas chamas que me consumiam, a usar essa energia de forma positiva e prazerosa.  Comecei a provar através de pequenas montagens cênicas naquele grupo de canto, um sentimento que se tornaria uma grande paixão, um amor futuro pelo Teatro.

            No ano seguinte tive a oportunidade de finalmente participar da montagem da peça “Avoar”, com direção de Vlademir Capella. Não tinha a mínima ideia do que era aquilo, do que seria passar por essa experiência com o Teatro, o que eu tinha convicção era que algo me atraia para aquele lugar e nada me faria brecar esse imã que me puxava para esse mundo. Foi minha primeira experiência com um processo teatral e com ele vieram os sentimentos mais fortes que senti naquele ano, o que foi fundamental para enxergar algum sentido nas coisas e continuar.

            A partir daí toda minha adolescência foi marcada pela Arte. Fiz parte da Cia. de Teatro do Projeto PALCO (antigo Vizinho Legal Cultura), participei de atividades extras ainda no Projeto PALCO, como a Dança, Música, Cinema, tive experiência com instrumentos como o Violino, o Violoncelo, a possibilidade de conhecer importantes espaços artísticos e assistir a espetáculos, ter contato com pessoas que são como mestres, professores, exemplos que só agregaram a minha vida e construir amizades com pessoas que considero como irmãos.

            Tenho plena ciência que esse envolvimento cultural no começo da minha compreensão de mundo foi o que me ajudou a fortalecer minhas raízes, a expandir meus conhecimentos, a entender o meu eu, e assim buscar, aceitar e compreender o outro.  Hoje, atitudes e sentimentos como o respeito, cuidado, carinho, admiração tenho por mim, mas também pelo outro, porque a arte me educou a entender que a minha unidade existe em conexão com o outro e vice-versa.

            Sinto orgulho do que sou e terei um eterno amor e gratidão pela arte e por tudo que fez por mim. Por conhecimento de causa, defenderei sempre a importância que a cultura e o contato com ela têm na vida e formação de um cidadão.  A Arte me deu sem pedir nada em troca, apenas me segurou e caminhou comigo.

Por acreditar nisso, lutarei sem medo contra qualquer ação que possa  impedir as pessoas de terem essa vivência de grade valor a existência humana ou nos jogar numa escuridão que apenas nos tratará confusão e desconhecimento.

 NÃO AO FASCISMO. CHEGA DE DITADURA.

LIBERDADE À CULTURA E PARA ARTE.

 

Anderson Teixeira, 10 de junho de 2016.